Diante de departamentos jurídicos cada vez mais exigentes em relação a números e estatísticas, escritório investe em tecnologia. Com mais dados, prevenção de problemas judiciais é facilitada
Apesar de não serem os profissionais mais adeptos das inovações tecnológicas, os advogados têm encontrado nos aplicativos de celular uma saída para entregar o que as empresas mais pedem no contencioso trabalhista: números.
No escritório do advogado Marcelo Tostes, cujo foco é a gestão de carteiras de milhares de processos, um aplicativo permite que os diretores de departamentos jurídicos das empresas tenham não só as informações em tempo real, mas também estratificadas de maneira estratégica.
Numa das empresas que atende, explica Tostes, sabia-se que a média de pedidos de assédio moral nas causas trabalhistas ficava em torno de três para cada 30 ações. “Mas em um determinado momento vimos que um dos estabelecimentos tinha uma média de 12 casos”, afirma. Com a informação, a empresa pode substituir o gerente e resolver o problema.
Ele reforça que se a empresa estivesse analisando os dados de assédio moral de modo agregado, não seria possível detectar o problema pontual. “É preciso enxergar o problema. Se não, estaremos enxugando gelo. Ficarmos para sempre no ciclo de fazer a defesa, ir para a audiência, esperar condenação e pagar a dívida”, argumenta Tostes.
Segundo os gerentes jurídicos, a sede das empresas por números e informações estatísticas só aumenta. Na visão do gerente jurídico da Hewlett Packard Enterprise, Eduardo Palinkas, trata-se de uma questão de previsibilidade. “A empresa não quer surpresas. E a função da estatística e da probabilidade é ajudar para que a surpresa não ocorra”, afirma.
Ele destaca que especificamente no Brasil, onde o volume de processos é maior do que em outros países, o uso de estatística e da chamada jurimetria (aplicação de métodos quantitativos no Direito) ganha cada vez mais espaço.
Palinkas reforça que a carteira de ações trabalhistas da HP no Brasil tem mais do que o dobro dos processos do trabalho da empresa em todo o resto do mundo. “Esse é um fato ilógico para uma empresa com 350 mil funcionários no mundo e US$ 120 bilhões de faturamento anual”, destaca.
A gerente do contencioso trabalhista da multinacional Prosegur, Elizabeth Kelly Saez, reforça que sua principal exigência em relação aos escritórios é o resultado final. “O escritório que não evolui nessa parte de gestão estratégica e administrativa não consegue trabalhar com o jurídico interno de nenhuma empresa. Minha preocupação é com o resultado, não com a melhor petição”, acrescenta ela.
Na visão de Tostes, é a tecnologia que vai ajudar os escritórios a atender essas exigências. Apesar de os sistemas de gerenciamento já serem bastante comuns nos escritórios, ele ainda entende que os advogados dão pouca importância para a tecnologia.
Correspondentes
Tostes conta que uma das apostas do escritório para melhorar a gestão na área trabalhista é um aplicativo para advogados correspondentes em outros estados. Segundo ele, não é raro que os correspondentes faltem na audiência. Em muitos casos isso resulta na condenação da empresa. Mas com o monitoramento do aplicativo, isso é evitado.
Se o correspondente está no local na hora certa, o sistema mostra uma luz verde. Se não está, aparece uma luz vermelha na tela. Tostes conta que em muitos casos, mesmo se o correspondente falta sem avisar, o escritório de São Paulo ainda consegue ligar para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e encontra um substituto de última hora. “Reduzimos o número de audiências perdidas a zero”, afirma ele.
Fonte: DCI; Clipping da Febrac- 27/11/2015.