Um levantamento da consultoria PwC concluiu que, em termos globais, apenas 7% das empresas familiares estão satisfeitas com a posição que ocupam na era digital. No Brasil, muitas delas já estão investindo para mudar o quadro, impulsionadas por líderes da nova geração.
Segundo o estudo, 56% dos executivos da “próxima geração” em empresas familiares já exercem papeis-chave vinculados à inovação. Os esforços, contudo, podem ser afetados por vícios considerados comuns no ramo, como a tomada de decisões concentrada nos fundadores e a falta de planejamento de médio ou longo prazo. Entre as empresas ouvidas pelo DCI, por sua vez, a indicação foi de sintonia cada vez maior entre a ousadia dos herdeiros e o conservadorismo de executivos mais velhos.
“Não acredito que haja resistência, mas cuidado”, avalia o diretor comercial da Fakini, Francis Fachini. Membro da segunda geração na fabricante têxtil catarinense, Francis se reporta ao pai, que segue como presidente. “Com as informações na mão e uma visão clara sobre os ganhos para o negócio, ele é bastante incentivador de novas tecnologias. Essa mistura de gerações ajuda a equilibrar as decisões e objetivos da empresa, nos fazendo nem tanto conservadores, nem tanto ousados em nossas ações”, pontua Francis – que nem de perto se encaixa no grupo dos frustrados com os executivos sênior: para a PwC, eles são 36%.
Na Fakini o alinhamento permitiu um investimento em tecnologia superior aos R$ 10 milhões em três anos, que incluiu a aposta em novos equipamentos e a mudança do layout da fábrica, além da adoção de um sistema de business intelligence (ou BI). “Iniciamos a implantação pelo comercial, em seguida fomos para a área de produto e agora estamos em implantação para a área industrial”, conta Francis.
No caso do diretor de estratégia e marketing da rede varejista Tintas MC, Renato Sá, a experiência conquistada longe de casa conferiu-lhe crédito para liderar transformações na empresa presidida pelo pai e fundada pelo tio.
“Em 2005 eu já tinha quinze anos de casa e sai porque queria me desafiar. Montei a [distribuidora] Premium com dois sócios e em dez anos ela e a Tintas MC já eram do mesmo tamanho, então fizemos uma fusão e voltei com parte uma parte interessante da sociedade”, conta Sá. “Consegui replicar práticas de tecnologia automaticamente quando voltei, sem nenhum tipo de restrição, pois eu já havia feito a validação de alguma maneira”.
Entre as táticas trazidas na bagagem de Sá estão o uso de ferramentas de geomarketing, que auxiliam a Tintas MC na definição de novos pontos de venda, por exemplo.
“Antes fazíamos muito por feeling; agora temos um nível de assertividade maior. O custo não é baixo, mas as informações trazidas são importantes”, avalia o diretor, que também lidera uma nova estratégia de engajamento em redes sociais. “Criamos um personagem virtual que se relaciona com fornecedores e pintores no Facebook”.
O passo é o primeiro de um posicionamento mais aderente aos novos tempos e que inclui a criação de lojas conceito, com experiência de compra mais sofisticada. “A turma dos vinte anos não compra tinta porque boa parte vive com os pais, mas como será em dez anos, quando ela tiver o consumo na mão? Se a loja física não oferece experiência, ela migra para a internet”, observa Sá – que também acompanha o impacto de ferramentas de simulação de ambientes.
Segundo o diretor, a relevância do digital no ramo de tintas é pequena por enquanto, não chegando a 1% do total negociado; ainda assim, a empresa está fazendo investimentos como a adoção de uma nova plataforma de e-commerce. “Queremos que em dois anos a nossa loja virtual esteja entre as nossas dez unidades que mais vendem”, conta o executivo. Após a recente absorção da Aquarela Tintas, a Tintas MC passou a somar 80 lojas próprias, além de 10 no modelo de franquias – também uma inovação liderada por Sá.
Transformação
Já Christian Luef é membro da quinta geração a frente da centenária fabricante de alimentos Hemmer, da qual é vice- presidente. Hoje administrada por quatro irmãos e um primo, a empresa também conta com um conselho de família formado por membros experientes.
“Passamos recentemente por um processo de estruturação muito forte, com reposicionamento tanto na linha de produtos quanto na tecnologia. Muitos maquinários têm menos de cinco anos”, conta Luef: a empreitada contou com apoio total do grupo mais velho. Já no mix de produtos, o movimento mais ousado foi a inclusão da cerveja artesanal no mix de produtos. “Parecia pouco provável para uma empresa centenária e sempre focada em alimentos” afirma o VP. “A inovação, a observação de mercado e a liberdade para propor soluções fazem parte da nossa cultura.”
Fonte: DCI – SP – 25/10/2017-
http://fenacon.org.br/noticias/empresas-familiares-correm-atras-de-inovacao-com-ajuda-de-novos-lideres-2627/