Cerca de 250 funcionários da Ticket, todos da área comercial, trabalham totalmente a distância. Isso acontece desde 2005, quando a empresa percebeu que essa prática beneficiava os dois lados – empregados e empregador. De um lado, colaboradores ganham em qualidade de vida, porque evitam o deslocamento diário ao escritório e trabalham do conforto de casa. Do outro, a empresa economiza em espaço físico e tem uma equipe mais motivada e produtiva.
Em 2018, após a aprovação da reforma trabalhista e a regulamentação do trabalho remoto, a Ticket vai iniciar uma segunda fase do programa “home office”, permitindo que mais 150 pessoas das mais diversas áreas da empresa trabalhem de casa em parte do tempo. José Ricardo Amaro, diretor de recursos humanos da Edenred, dona da Ticket, explica que esses funcionários não vão trabalhar a distância todos os dias da semana, como fazem os da área comercial. “Eles poderão escolher de um a três dias. Estamos, neste momento, verificando quem será elegível, de acordo com a função exercida”, afirma.
O RH da Edenred decidiu estender a prática do home office porque captou esse desejo na equipe nas pesquisas de clima.
Antes da reforma trabalhista, a Edenred desenhou um contrato de trabalho específico para quem faz home office, uma forma de se prevenir de possíveis embates judiciais, já que a lei não tinha especificações para o trabalho remoto.
A reforma, explica Wolnei Tadeu Ferreira, diretor executivo da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt), regulamentou o trabalho a distância atendendo princípios da Organização Internacional do Trabalho (OIT). É necessário, por exemplo, constar em contrato quem vai arcar com as despesas com internet e energia elétrica e a empresa deve se responsabilizar por orientar o funcionário sobre questões de saúde ocupacional. Já o controle da jornada pode ser feito por tempo de acesso ou pelos resultados apresentados. “Antes da reforma havia insegurança jurídica em relação a alguns pontos. Não havia, por exemplo, ausência do controle da jornada e não estava estabelecido como conduzir questões de saúde ocupacional”, afirma Ferreira.
Na Philips Brasil, desde 2010 os funcionários podem fazer home office uma vez por semana. O controle, nesse caso, sempre foi feito por produtividade, e não por tempo de jornada. “Nunca vimos a legislação como um entrave para permitir o trabalho a distância, porque há lugar para todos na sede na empresa. Então, quem quiser, pode ir para o escritório todos os dias”, diz Tânia Tereskovae, head de recursos humanos da Philips Brasil.
Sempre que alguém opta por trabalhar remotamente, leva o computador e o celular da empresa para casa. A restrição da prática a um dia da semana se dá porque a companhia entende que a proximidade e a sinergia entre os membros da equipe é importante.
Na unidade brasileira da Intuit, uma empresa americana que desenvolve soluções financeiras para pequenos negócios, o entendimento é parecido. “A gente se beneficia em trabalhar juntos e próximos”, diz Cecília Pinaffi, head de recursos humanos na Intuit. “É positivo estar no mesmo ambiente, porque você levanta da cadeira e vai conversar com quem está ao lado.”
Além disso, Cecília vê ressalvas legais em permitir o trabalho remoto. “A questão da jornada ainda está sendo discutida, porque temos que levar em conta o entendimento dos sindicatos das categorias. O princípio do controle de jornada é importante”, afirma. No Brasil, a Intuit tem 45 funcionários e nos Estados Unidos, 6 mil.
A DB1 Global Software, com sede em Maringá, no Paraná, começou a permitir o trabalho remoto em 2016, antes da aprovação da reforma. A estratégia foi uma forma de conseguir contratar bons desenvolvedores de software que estavam espalhados pelo Brasil e não tinham disponibilidade para morar no Paraná.
“Começamos com profissionais mais seniores, porque entendemos que pessoas com mais tempo de experiência têm mais autonomia para trabalhar sozinhas, então se adaptariam melhor”, diz Natália Kawatoko, gerente de recursos humanos na DB1. Desde 2017 alguns perfis com menos tempo de carreira migraram para o home office também.
Passados dois anos da instituição do trabalho remoto, a DB1 observa melhora na produtividade de quem se adapta a esse modelo e otimização dos recursos da empresa para infraestrutura. “Conseguimos crescer sem investir tanto em estrutura física”, afirma Natália.
Para se prevenir em relação à legislação trabalhista, a DB1 contou com o apoio de consultorias jurídicas para formalizar o projeto. “Temos uma política interna para alinhamento de expectativas e alteração de contrato para resguardar trabalhador e empresa”, explica a executiva.
Agora, a DB1 se prepara para mais uma fase de seu projeto de trabalho a distância. Com o “DB1 at home” a empresa pretende levar um pouco mais da companhia para o home office do funcionário. “Estamos montando um kit com garrafa térmica, caneca, squeeze e camiseta da empresa para que o funcionário se sinta mais parte da equipe.”
Fonte- Valor Econômico- 12/4/2018- http://www.seteco.com.br/reforma-regulamenta-trabalho-distancia-valor-economico/