A eventual aprovação da reforma da Previdência pode valorizar as estatais do governo federal, bem como atrair mais investidores para os projetos de concessão, especialmente, os chamados “greenfield”, que são projetos que começam do zero, como construção de ferrovias, por exemplo.
A economista-chefe da Reag Investimento, Simone Pasianotto, diz que, a partir do momento em que o governo sinaliza, por meio de reformas fiscais, que terá um controle maior sobre suas contas, cresce a confiança sobre a trajetória dos indicadores econômicos: menos risco de pressão inflacionária e de aumento de impostos, perspectiva de uma taxa de juros mais baixa, melhora do mercado de trabalho, etc.
Todos esses fatores teriam um impacto positivo sobre o preço dos ativos públicos. Na avaliação de Pasianotto, algumas das empresas com alta probabilidade de serem vendidas, caso o programa de privatizações do ministro da Economia, Paulo Guedes, seja coloco em prática são: Telebras, Correios, Lotex, BR Distribuidora e Valec.
O coordenador do mestrado de Políticas Públicas do Insper, Sandro Cabral, afirma que a aprovação da reforma pode ser fundamental para a atratividade dos projetos de concessão que demandem investimentos em grandes obras, como ferrovias que interligam longas distâncias.
Caso não seja esse o caso, Cabral avalia que o mais importante será a modelagem do projeto. “No caso de aeroportos que já estão construídos, cuja a concessão é para administrar e operar, a aprovação ou não de uma reforma da Previdência é uma questão menos importante. Uma boa modelagem do projeto e alocação correta de riscos podem ser suficientes. O aeroporto já está pronto e é só operar”, comenta o professor do Insper.
“Outra coisa são os projetos greenfield, onde o investimento começa do zero: você precisa construir uma estrada de ferro, uma ferrovia, um metrô que tem participação do governo. Esse tipo de investimento tem um risco maior e a perspectiva fiscal do governo de médio e longo prazo é mais importante”, completa Cabral.
Neste caso, é mais relevante para o investidor saber se o governo terá condições de honrar compromissos futuros.
O coordenador do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), Ricardo Balistiero, considera que a perspectiva fiscal é mais importante no caso de projetos firmados no âmbito das parcerias público-privadas (PPPs) do que em concessões.
“Na concessão, o investidor assume o risco sozinho, agora nas PPPs, o risco é dividido com o setor público. Neste último caso, o investidor precisará ter confiança que o governo poderá honrar compromissos, caso ocorra algum choque na economia”, reforça Balistiero.
O especialista do IMT tem uma visão distinta a respeito das privatizações de estatais. Segundo ele, se a reforma da Previdência Social for aprovada, o governo federal tende a se sentir menos pressionado em arrecadar mais recursos, o que pode reduzir o ritmo de venda dos ativos. “Além disso, o processo de privatização das estatais é algo muito complicado de se fazer no Brasil, tendo em vista os diferentes interesses políticos que existem em torno dessas empresas públicas”, opina Balistiero.
Novas rodadas
Ontem, o Ministério da Infraestrutura publicou no Diário Oficial da União (DOU) um edital de chamamento público para interessados em realizar estudos técnicos para a concessão de 22 aeroportos.
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, destacou que os projetos serão estruturados em três blocos: Bloco Sul, composto pelos aeroportos de Curitiba, Foz do Iguaçu (PR), Navegantes (SC), Londrina (PR), Joinville (SC), Bacacheri (PR), Pelotas (RS), Uruguaiana (RS) e Bagé (RS); Bloco Norte: terminais de Manaus, Porto Velho (RO), Rio Branco, Cruzeiro do Sul (AC), Tabatinga (AM), Tefé (AM) e Boa Vista; e Bloco Central, composto pelos aeroportos de Goiânia, São Luís, Teresina, Palmas, Petrolina (PE) e Imperatriz (MA).
Na semana passada, o leilão de 12 aeroportos, na B3, com ágio de 986%, superou a outorga estipulada pelo governo de R$ 2,1 bilhões. No total, os lances pelos três blocos somaram R$ 2,377 bilhões.
Fonte: DCI; Clipping da Febrac- 19/3/2019.