Dificuldade enfrentada na contratação de banda larga ou reformas supera a carga tributária e burocracia como maior problema cotidiano de empresários de menor porte, disse o Peixe Urbano
A contratação de infraestrutura causa mais dor de cabeça entre os médios e pequenos prestadores de serviços nacionais do que outros problemas considerados endêmicos no ambiente empresarial brasileiro, como a carga tributária e a burocracia.
A conclusão é de um estudo realizado pela plataforma de serviços e ofertas na internet Peixe Urbano. Em uma escala onde o zero é o menos preocupante e o cinco o mais, questões relacionadas à infraestrutura aparecem com 3,71 pontos de acordo com os mais de 300 parceiros ouvidos pela empresa – como locadoras de carros, centros de formação de condutores (CFCs), pet shops e espaços de festas ou casas de show.
A contratação de serviços de internet ou telefonia, de profissionais qualificados para reparos ou reformas e a própria troca de equipamentos no caso de setores com necessidades específicas ficam debaixo do “chapéu” infraestrutura, de acordo com os critérios utilizados pela pesquisa. “A maioria das pessoas reclamaram de poucas opções; em seguida veio a baixa qualidade”, explicou o CEO da Peixe Urbano e responsável pelo levantamento, Alex Tabor.
O caso da banda larga talvez seja o que exemplifique melhor a situação: historicamente mal avaliado pelo consumidor, o mercado é considerado altamente concentrado pela própria Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), uma vez que são escassas as opções de prestadores.
A situação vai de encontro com os dados amealhados pelo Peixe Urbano: a dependência de poucos fornecedores foi identificada por 59,2% dos respondentes como maior dificuldade quando o assunto é infraestrutura. Lembrado por 40,8%, a má qualidade vem logo em seguida.
O problema é ainda maior no caso de segmentos altamente dependentes da banda larga, como os CFCs, onde a comunicação em tempo integral com departamentos de trânsito é mandatória. “Se cai o serviço fica todo mundo sem trabalhar e o aluno, que pagou a aula, tem que ir de novo”, afirma o empresário João Pinto Ribeiro, proprietário de quatro CFCs no Rio de Janeiro.
“Quem tem condições trabalha com duas conexões de internet; o problema é quando as duas caem”, prossegue Ribeiro, que também é presidente do Sindicato das Autoescolas do Rio de Janeiro (Sindaerj). Alia-se à questão o fato dos centros dependerem de equipamentos bastante específicos, cuja gama de fornecedores também é mais reduzida ainda – um exemplo são os simuladores de tráfego, obrigatórios nos CFCs em nível nacional desde o início do ano; o número de empresas que podem comercializar a solução não atinge uma dezena.
Melhora lenta
A segunda colocação da carga tributária no ranking de obstáculos enfrentados pelo médio empresário de serviços pode ser justificada pelo efeito inicial de regimes como o Simples Nacional ou o cadastro de Microempreendedor Individual (MEI), entende Alex Tabor. “Se o estudo ouvisse também as empresas grandes, a carga tributária provavelmente teria um peso maior”, afirmou o CEO do Peixe Urbano, que atuou em parcerias com cerca de 55 mil empresas desde 2010 – a maioria delas de pequeno ou médio porte.
A mordida do governo, entretanto, ainda é considerada alta por 69% dos ouvidos. Por outro lado, apenas 23% deles seguem considerando o regime tributário vigente complexo. É o caso dos CFCs cariocas, afirma Pinto Ribeiro: mesmo com a migração maciça de empresas do segmento para o Simples Nacional, muitas delas ainda possuem dúvidas sobre as regras do mecanismo, que foi passou a ser mais amigável para prestadores de serviços a partir de sua universalização no ano passado.
Outros desafios complementaram a lista formulada pele Peixe Urbano. Com 3,28 pontos, a burocracia aparece no terceiro lugar. A dificuldade na obtenção de capital vem logo em seguida, com 3,13 pontos – além dos altos juros, 37% dos ouvidos acredita enfrentar dificuldades extras no processo por conta do porte de sua empresa. Já a escassez de capital humano (3,04 na escala criada pelo Peixe Urbano) foi lembrada por 67%. Oito entre cada dez entrevistados ainda acreditam que a concorrência em seus respectivos setores está saturada.
Fonte: DCI- 17/10/2016; Clipping da Febrac.