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Endividamento mais baixo deve estimular poupança e consumo

O processo de desalavancagem de empresas e famílias impôs um ritmo mais lento à saída da recessão, mas deve dar impulso extra à economia neste ano. Nas estimativas de Marcelo Carvalho e Gustavo Arruda, do BNP Paribas, o comprometimento com o pagamento de dívidas – atualmente em 19,9% da renda mensal dos consumidores (dado de dezembro, último divulgado pelo Banco Central) – deve recuar para ao redor de 18% até o fim do ano.

Esse alívio, equivalente a 1,5 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB), tende a ser destinado em parte à poupança e, também, ao consumo, considerado o principal motor da retomada.

Apesar das dúvidas que alguns economistas começaram a levantar diante dos indicadores deste início de ano, o BNP continua com viés mais otimista trabalha com expansão de 3% para a economia em 2018, número pouco acima do consenso de mercado, de 2,8%. Segundo os economistas do banco francês, além da redução do endividamento do setor privado, fatores como a recuperação do mercado de trabalho, a taxa de juros em nível estimulativo por período prolongado e um ambiente externo ainda favorável para emergentes serão importantes na recuperação cíclica, que já está dada.

“O Brasil está num momento único, no melhor dos mundos, porque dá pra voltar a crescer, até rápido, por um bom tempo, sem pressão da inflação”, afirmou Carvalho ao Valor. Para ele, existe também um componente estrutural que explica a desaceleração dos preços. “Se olharmos para trás daqui a alguns anos, talvez cheguemos à conclusão de que o Brasil fez uma transição histórica e conseguiu mudar a média da inflação para baixo”, avalia. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Recuperação

Do ponto de vista cíclico, temos um crescimento forte já a caminho. A economia está indo na direção imaginada e pode surpreender para cima, mas com composição um pouco diferente do que se pensava lá atrás. Os economistas achavam que o crescimento iria voltar primeiro e depois o consumo, mas ocorreu o contrário. Temos a volta da confiança, a queda dos juros, condições de crédito melhores porque os bancos estão voltando a emprestar, a melhora do mercado de trabalho, e as empresas parecem estar razoavelmente bem equilibradas. Há vários fatores que nos deixam confiantes sobre esta recuperação cíclica, neste ano e no próximo. Apesar da volatilidade dos dados de curto prazo, o quadro geral se mantém.

Desalavancagem

A desalavancagem é a maneira mais fácil de observar aquela velha frase do Banco Central de que a política monetária tem efeitos defasados e cumulativos. Apesar de a dívida total das famílias estar caindo desde 2016, não vimos essa melhora no balanço médio. A linha de comprometimento mensal de renda ficou quase parada em 22% durante quase quatro anos. De setembro para frente houve queda, e esses 22% devem passar a cerca de 18% no fim de 2018. Se estivermos corretos, isso representa 1,5 ponto do PIB. Só pagando menos dívidas, as famílias terão mais recursos, que vão para aumento de consumo ou de poupança. Acreditamos em uma mistura dos dois.

Inflação

Prevemos uma alta de 3,5% para o IPCA neste ano e, pelo andar da carruagem, os riscos são mais para baixo do que para cima. A inflação de alimentos até agora não está preocupando muito, mas é mais do que isso. Os serviços e núcleos estão super comportados, porque há uma folga muito grande na economia, e porque há um elemento que talvez seja mais estrutural, mesmo: a reancoragem das expectativas, com um Banco Central mais crível. Se olharmos para trás daqui a alguns anos, talvez a gente conclua que o Brasil fez uma transição histórica e conseguiu mudar a média da inflação para baixo. Há boas chances disso acontecer.

Mercado de trabalho

Tivemos exagero dos dois lados. Não sabemos qual a taxa natural de desemprego, que não acelera a inflação, mas estávamos abaixo dela e agora estamos acima. O mercado de trabalho está em melhora, mas primeiro voltam as contratações informais, e pensando do ponto de vista do empregador, é assim mesmo. O que não sabemos é qual vai ser o impacto da reforma trabalhista sobre o mercado. O número de questionamentos jurídicos já diminuiu bastante após a reforma, e isso quer dizer alguma coisa. Ela deve ajudar a diminuir a informalidade, e pode ser um viés pra melhor nos dados de emprego.

Cenário externo

O mundo, por enquanto, ainda está ajudando. O juro está subindo e essa é a má notícia. O Fed [Federal Reserve, banco central americano] vai subir o juro umas quatro vezes, os outros bancos centrais do mundo estão reduzindo os estímulos, mas a boa notícia é que estão subindo devagar, ninguém está correndo atrás da curva, o que ajuda a limitar o efeito de alta dos juros lá fora. Já o dólar deve continuar a se desvalorizar em relação a outras moedas, o que estimula o fluxo de capitais para países emergentes. O dólar mais fraco tem efeito de alta sobre os preços de commodities, o que é fantástico para quem exporta esses itens, como o Brasil. Mas isso não dura para sempre.

Eleições

A hipótese do mercado, que também é a nossa, é que no fim tudo vai dar certo. De que teremos um governo market friendly, que vai avançar com as reformas, porque é difícil ver uma alternativa que não seja essa. Seja de direita ou de esquerda, a realidade a ser enfrentada pelo próximo governo é a mesma: se não tiver reforma da Previdência, o teto de gastos “quebra”. Até o início da campanha, em agosto, teremos incerteza e volatilidade, mas quem quer que seja eleito vai avançar nas reformas e encontrar um ambiente institucional melhor. Vai demorar um tempo para que se devolva 100% do dinheiro colocado nos bancos públicos, por exemplo, mas a vantagem é que daqui para frente a chance disso acontecer novamente diminuiu bastante.

Fonte- Valor Econômico- 21/3/2018- http://www.seteco.com.br/endividamento-mais-baixo-deve-estimular-poupanca-e-consumo-valor-economico/

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