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Empresas em família crescem mais, mas rendem menos

Existe um ditado popular que diz “amigos, amigos, negócios à parte”, ou seja, não é aconselhável misturar amizade com dinheiro. Mas será que o mesmo vale para familiares? Dados de pesquisa do Boston Consulting Group (BCG) – empresa de consultoria de gestão com 85 escritórios em 48 países – mostram que, no Brasil, as empresas familiares de grande porte, com faturamento acima de US$ 500 milhões, crescem mais que as outras. No entanto, a rentabilidade é menor.

Esses empreendimentos em família têm uma participação expressiva no mercado, principalmente nos emergentes. Enquanto respondem, nos Estados Unidos e na Europa (Alemanha e França), respectivamente, por 33% e 40% do mercado, no Brasil e na Índia, a participação chega a 46% e 55%, respectivamente.

Advogado da Messano & da Mata Advogados e professor de direito empresarial do Ibmec/MG, Leonardo Messano afirma que o número de empresas familiares no Brasil chega a 90% do mercado, considerando todos os portes de empreendimentos. Segundo ele, cuja tese de mestrado aborda o tema, estudos indicam o número.

De acordo com o BCG, as empresas familiares apresentam crescimento de 21%, enquanto empresas de outro tipo crescem 18%. Já no que se refere à rentabilidade, a situação é diferente: 8% nas não-familiares contra 5% nas familiares.

Sócio do BCG no Brasil, Christian Orglmeister ressalta que a empresa familiar tem como característica o traço do empreendedor que a começou. “São geralmente mais dispostas a abraçar novas oportunidades e lançarem-se em novos negócios. Por estarem também cientes de que o negócio deve crescer para fazer frente ao ritmo do crescimento da família, de geração em geração, apreciam mais o crescimento”, diz.

Profissionalização. Para Messano, as empresas familiares têm um ritmo de crescimento maior no Brasil do que as demais modalidades de negócio em razão do aumento da profissionalização da gestão que vem ocorrendo nos últimos anos.

Outro ponto positivo dessas empresas, que ajuda no crescimento, na avaliação do especialista, é a agilidade na tomada de decisões. “A dedicação, por ser uma empresa da família, tende a ser maior”, observa ele.

Já a rentabilidade menor, que foi apontada na pesquisa tanto no Brasil quanto nos demais mercados emergentes, tem, para Mossano, relação com as dificuldades impostas. “No caso do Brasil, há problemas de infraestrutura e capital caro, já que os juros são altos. Não acho que a rentabilidade seja menor por causa de má administração, o que não seria problema exclusivo das empresas familiares. Aliás, há vários exemplos de empresas familiares sólidas no mercado”, explica Messano.

Orglmeister tem outra explicação. Para ele, algumas firmas tomam a decisão consciente de se dividir ou ainda criar novas unidades, para dar oportunidade de empreender a novos membros de outras gerações. “Ao optarem por crescer mais rapidamente, estão dispostas a sacrificar um pouco a lucratividade”, analisa.

Diferença. Nos mercados desenvolvidos, o envolvimento familiar, no geral, diminui ao longo do tempo, conforme levantamento do Boston Consulting Group.

Decisões são mais rápidas

A agilidade é um dos diferenciais de uma empresa familiar, segundo o sócio-diretor da Krug Bier, Herwig Gangl. Ele trabalha com os dois filhos, Matthias e Lukas, além do sobrinho Alexandre Bruzzi.

Para ele, a ligação numa empresa familiar é mais intensa. “Os assuntos relativos aos negócios não terminam no horário do expediente. É por isso que as decisões são mais analisadas e rápidas”, observa.

Dedicação

Ser dono gera compromisso, diz empresário

O comprometimento com a empresa é maior quando o profissional é um dos donos, segundo o sócio-diretor da Krug Bier, Herwing Gangl. “A empresa não é um emprego, a empresa é dele. O sentimento de propriedade faz diferença na dedicação ao trabalho”, explica ele.

Para Gangl, o dado da pesquisa da Boston Consulting Group (BCG) que mostra que as empresas familiares crescem mais rápido é condizente com a realidade, em especial, com empreendimentos de pequeno e médio portes.

“Nas grandes, acho que a situação é diferente. A administração se torna mais complexa, a estrutura tem que ser maior e acaba envolvendo mais profissionais de fora da família. É uma outra situação”, observa o empreendedor.

Segunda geração é o desafio

Credibilidade, em muitos casos fruto do conhecimento de gerações no negócio é um dos pontos fortes das empresas familiares, conforme o levantamento “O que torna as empresas familiares em mercados emergentes tão diferentes?”, feito pelo Boston Consulting Group (BCG) – empresa de consultoria com atuação em vários países. Entretanto, nem todos os empreendimentos conseguem se manter por gerações no mercado.

Em torno de 30% das empresas familiares não sobrevivem à segunda geração. O percentual passa para 4% no que se refere à terceira geração, conforme o advogado da Messano & da Mata Advogados e professor de direito empresarial do Ibmec/MG, Leonardo Messano. Ele estudou o assunto para fazer sua dissertação de mestrado.

O especialista observa que são vários os motivos que levam um empreendimento a fechar as portas, como má administração ou até uma crise na economia. Só que, no caso das empresas familiares, existe um fator específico que são os conflitos familiares focados na atividade empresarial. “As disputas podem acontecer por causa do controle societário ou mesmo dúvidas na prestação de contas”, observa. Para ele, ao mesmo tempo que a proximidade familiar pode ser boa na agilidade para deliberar e agir, a intimidade pode atrapalhar.

Problema. Outro desafio, além dos impostos pela economia brasileira, como crédito caro e tributos altos, é a sucessão. “Mesmo que os herdeiros não tenham interesse em participar do dia a dia da empresa, é importante entender do negócio para poder controlar o trabalho dos executivos”, frisa.

O sócio majoritário da Casa Salles, Edmar Salles, 88, também aponta a sucessão como um dos desafios enfrentados por uma empresa familiar, já que nem todos os membros da família podem se interessar pelo negócio. Dos seis filhos dele, todos sócios, só uma trabalha na empresa, Consuelo Cançado e Salles. Além dela, o neto Guilherme atua na administração.

Edmar conta que até se formou em direito, mas, com a doença do pai, teve que assumir o negócio, há 70 anos. Desde então, ele está atuando no varejo de Belo Horizonte. No momento, garante, o problema da sucessão está resolvido.

Matthias Gangl, 25, que trabalha com o pai, Herwig Gangl, na cervejaria Krug Bier, é outro que atua na empresa há anos. “Desde cedo eu acompanho tudo, me sinto protegendo o que é da minha família”, diz.

Corajosas

Inovação. As empresas familiares são mais inovadoras que as não-familiares, segundo o sócio do BCG no Brasil e líder da prática de Family Business, Christian Orglmeister.

Brasileiras. Apresentam algumas características próprias: são resilientes, têm espírito empreendedor, vontade de aprender e se arriscar, agilidade na tomada de decisões, generosidade em distribuir o valor gerado, e forte conexão com pessoas.

Mais antiga da cidade

Cinco gerações no comércio

A Casa Salles, na região central de Belo Horizonte, é um exemplo de empresa que está no mercado há gerações. O atual administrador da loja, Guilherme Salles, é a quinta geração. “Hoje, trabalham aqui eu, meu avó e minha mãe”, diz. Atuando no segmento de armas, munições e cutelaria, a empresa foi criada por João de Salles Pereira, tataravó de Guilherme, em 1881, em Ouro Preto, na região central do Estado. Em 1904, foi transferida para a capital. “É a loja mais antiga de Belo Horizonte e isso mostra ao mercado, além da tradição, reconhecimento, credibilidade”, frisa.

Guilherme conta que é apaixonado pela loja. “Era um lugar que eu frequentava desde criança, quando voltava das aulas”, diz.

Para ele, o que faz as empresas familiares crescerem mais rápido que as não-familiares, como mostra o levantamento do Boston Consulting Group (BCG), é a dedicação mais intensa, já que o negócio é da família. “Acredito que o empenho é maior, bem como as cobranças. Muitas vezes, sem perceber, cria-se uma competição entre os familiares. E você ainda leva o trabalho para casa. Há vantagens e desvantagens como em tudo na vida”, analisa.

Emergentes têm mais envolvimento

Ter membros da família em funções gerenciais de nível mais alto é prática mais comum nos países emergentes, revela estudo do Boston Consulting Group (BCG). “Descobrimos que os membros da família são diretamente envolvidos no gerenciamento de aproximadamente 90% das empresas familiares na Índia. Em contrapartida, na Europa e nos Estados Unidos, os membros da família são investidores sem responsabilidade gerencial em mais de 60% das empresas familiares”, diz o sócio da BCG no Brasil, Christian Orglmeister.

Confira imagens explicativas no link:

http://www.otempo.com.br/capa/economia/empresas-em-fam%C3%ADlia-crescem-mais-mas-rendem-menos-1.1389499

Fonte: O Tempo- 24/10/2016.

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