Para quem sonha em sair do emprego atual e virar o dono do próprio negócio, uma boa opção pode ser montar uma empresa familiar. Mas na hora de empreender, qualquer tipo de negócio tem seus desafios e passa por dificuldades. As empresas familiares não escapam da estatística. “E principalmente quando as pessoas envolvidas são familiares, é importante saber resolver os conflitos e crises da melhor forma possível”, segundo o consultor de projetos de empreendedorismo do Sebrae Londrina, Rubens Negrão.
No Brasil, mais da metade das empresas são familiares ou começaram como empresas familiares. Segundo a pesquisa “Empresa Familiar: O desafio da Governança”, divulgada no final do ano pela PwC (empresa de serviços profissionais nas áreas de auditoria e consultoria), 79% dessas empresas registrou crescimento nos últimos 12 meses, e 76% prevê manter o crescimento nos próximos cinco anos.
Para que esse crescimento seja registrado sem que a família enfrente muitos conflitos, no entanto, é essencial ter um bom plano de negócios e viabilidade logo na abertura da empresa. “Quando a empresa começa, todo mundo está animado, o clima é favorável e ideal para montar esse plano, que deve incluir um plano de crescimento e de sucessão, por conta da chegada dos filhos e netos, por exemplo”, explica o consultor. Ele ressalta que, quando há um plano elaborado, se houver crise financeira ou de mercado, todos sabem como a empresa vai se comportar. “Na hora da crise ninguém quer assumir a dívida, ninguém quer abrir mão do salário, então se deixarem para fazer esse plano de negócios nessa hora, ele não vai funcionar”. O ideal, segundo Negrão, é que um contador, advogado ou consultor ajude os empreendedores a elaborar esse documento, com a participação de todos os sócios.
PERFIL
Com o plano montado e o negócio funcionando, alguns problemas podem surgir em relação à hierarquia e gerenciamento de funcionários, por exemplo. “É importante estabelecer quem faz o que, e funções específicas, para que os contratados saibam quem resolve qual tipo de problema. Essa é a hora de deixar o ego e o jogo de poder de lado, e saber reconhecer suas capacidades e dificuldades”. Segundo Negrão, é preciso analisar o perfil dos membros da família que trabalham no negócio. “Tem pessoas que não têm perfil para chefia, mas é bom na produção. Mas se essa pessoa quiser mandar, e não receber ordens, fica complicado. Para a empresa funcionar bem, todos devem trabalhar pelo bem da empresa onde funcionarão melhor”.
Outro problema que pode ser enfrentado em gestões familiares é o funcionário chamado de “filho de dono”. “Quando a empresa tem outros funcionários e também emprega os filhos, ou netos, eles devem se portar e ter os mesmos direitos que todos os funcionários. Quando os membros da família dão exemplo de como se portar, o clima no ambiente de trabalho fica melhor entre todos”. Isso inclui, segundo ele, sanções administrativas, advertências ou mesmo demissão, caso seja necessário. “O filho do dono não pode pegar dinheiro do caixa, dar ordem quando não é responsabilidade dele ou mesmo querer decidir o que não lhe cabe”, aconselha.
Se a empresa cresce ao ponto de precisar ter diretoria executiva, gerência, vários setores e dezenas de funcionários, a dica do consultor é delegar funções e deixar que os gestores cuidem de seus próprios departamentos. “Eles podem delegar que compras de até tantos mil podem ser feitas pelo gestor. Somente acima disso que a diretoria decide. Contratação de funcionários até a subgerência, pode ser decidido pelo chefe de Recursos Humanos, mas um diretor ou um cargo acima, será decidido pelos membros da família. Se não for assim, a empresa fica engessada e muito burocrática, o que atrapalha todo o sistema e funcionamento da organização”, finaliza.
Fonte: Folha Web; Clipping da Febrac- 19/1/2015.