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Construção, máquinas e autos devem sofrer mais na nova crise

Os setores de construção civil, máquinas e equipamentos e automotivo são os que estão sujeitos a sofrer revisões mais significativas nas projeções de desempenho para 2017 e 2018 por conta da crise política detonada com a divulgação de delações que envolvem o presidente Michel Temer, segundo avaliação da Tendências. A consultoria ressalta que a revisão não significa projeção de queda para a atividade dos três setores. A retomada da economia puxada pelos três segmentos a partir do segundo semestre, porém, deve se tornar mais demorada ainda do que já se imaginava.

A conclusão da Tendências baseia-se em relatório no qual a área de análise setorial e inteligência de mercado classifica de forma qualitativa 28 segmentos de atividade segundo a exposição ao risco com o eventual impacto da crise em alguns elementos-chave do cenário econômico.

O economista e diretor de análise setorial da Tendências, Adriano Pitoli, explica que a consultoria ainda não revisou as projeções para o ano e, de modo geral, não deve fazer grandes mudanças no cenário de atividade econômica. A consultoria, porém, deve revisar para baixo as projeções para os indicadores de atividade para mercado imobiliário, bens de capital e setor automotivo.

O economista destaca que não se trata de projetar novas quedas acentuadas nesses setores para 2017 ou 2018. A retomada deles e do restante da economia, porém, que já se imaginava lenta, deverá ocorrer em ritmo ainda mais lento. “A crise não irá abortar a reação, mas ela será mais volátil e mais demorada.”

Os segmentos automotivo, de construção civil e de máquinas e equipamentos são pró-cíclicos, explica Pitoli, e foram os que mais sofreram desde 2014. Exceto construção, ressalva, esses setores vinham exibindo indicadores de retomada de atividade. “Antes da nova crise esperávamos que esses segmentos puxassem a retomada contribuindo com variações maiores de taxas de crescimento no segundo semestre de 2017 e ao longo de 2018 e 2019.”

Pitoli diz que as taxas de crescimento dos três segmentos, imaginava-se, seriam destaque no segundo semestre do ano. Mas a perspectiva, pondera, não era de euforia. “Antes desse novo round de crise política já pensávamos que esses segmentos só iriam voltar para patamares de 2104 em 2020 ou 2021. Agora pode demorar mais”, avalia.

“Tudo leva a crer que a economia sairá um pouco machucada, isso já está praticamente contratado”, aponta o economista. Os três setores já citados, diz, que são bem sensíveis ao ciclo econômico, já estão “chamuscados”. Por isso a retomada significativa para eles no segundo semestre de 2017 e em 2018 e 2019 já ficou menos provável.

Dentre 28 setores analisados pela Tendências, 12 estão submetidos a um risco maior com a mudança do quadro conjuntural por conta da nova crise. Foi analisada a exposição dos diversos segmentos a riscos em relação a eventuais efeitos da crise no câmbio, ciclo econômico, mercado de trabalho, restrição ao crédito, programa de concessões e confiança.

Pitoli alerta que ainda não é possível saber qual exatamente é o risco de mudança de cenário, já que o desfecho da nova crise política ainda não está claro. O quadro traçado até agora pela consultoria, porém, não é tão nebuloso.

“Estamos um pouco mais inclinados a considerar que o desfecho da crise teria consequências não tão danosas para a atividade econômica”, diz ele. Para esse quadro a consultoria considera dois desfechos possíveis e que parecem mais favoráveis neste momento: o primeiro, no qual o presidente Michel Temer consiga restabelecer as condições de governabilidade e que o bombardeio se dissipe. O segundo, no qual Temer cai rapidamente e o novo presidente preserva a agenda econômica em curso.

São dois desfechos muito distintos do ponto de vista político, diz Pitoli, mas com mesmo impacto de contaminação limitada, do ponto de vista da economia. Para explicar isso, o economista faz um paralelo com alguns períodos da história recente do Brasil, como a década de 80. Naquele período, lembra ele, não havia consenso sobre o diagnóstico das origens da crise e sobre os remédios. “Hoje não só existe um consenso do que fazer para tirar o país da crise como essas medidas já estão sendo tomadas”, compara.

Por isso, diz Pitoli, a preservação da equipe econômica atual seria condicionante fundamental para um desfecho benigno da crise. “Quem está na cadeira de presidente não é tão crucial desde que se garanta a continuidade da agenda econômica”, avalia. Uma das medidas cruciais, exemplifica, é a reforma da previdência.

O que a consultoria considera neste momento como desfechos menos favoráveis, diz ele, seria a continuidade de Temer com manutenção da crise de governabilidade por longo tempo ou um novo presidente que não consiga aglutinar forças políticas para levar à frente a agenda atual.

Fonte- Valor Econômico- 26/5/2017- http://www.seteco.com.br/construcao-maquinas-e-autos-devem-sofrer-mais-na-nova-crise-valor-economico/

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