Estudo do Banco Mundial estima que as empresas brasileiras dedicam 1.958 horas por ano, em média, com o cumprimento de obrigações tributárias. Além desse gasto em tempo e de mão de obra voltada para a tarefa, estar em conformidade também exige outros investimentos financeiros, como revela uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), o qual aponta que companhias gastam cerca de 1,5% do faturamento anual para se adequar ao Fisco.
Ainda segundo o IBPT, estima-se que cada empresa tem que seguir atualmente mais de 3.790 normas, o equivalente a 5,9 quilômetros de folhas impressas em papel formato A4. A cada dia, uma média de 30 novas regras ou atualizações tributárias são editadas no País. Ou seja, a cada hora, mais de uma nova norma tem que ser seguida ou levada em conta no cálculo dos impostos.
A tecnologia pode ser uma importante aliada para estar em conformidade com todas as exigências. Para a diretora de conteúdo da Avalara Brasil, empresa especializada em automação fiscal em nuvem, Trícia Braga, “devido às inúmeras mudanças legislativas no cálculo dos tributos, na forma de entrega das informações e nos procedimentos fiscais como um todo, e considerando o curto espaço de tempo para a implementação destas mudanças, a única forma de garantir a adequação das informações às alterações legais é a automatização dos processos fiscais”.
JC Contabilidade – O ano de 2018 está chegando e, com ele, atualizações nas obrigações acessórias. Quais você acredita que serão as principais alterações às quais os contadores devem ficar atentos?
Trícia Braga – Além das constantes mudanças legislativas que afetam o cálculo e recolhimento dos tributos todos os anos, o crescente avanço tecnológico do Fisco frente às empresas atingirá uma importante etapa no ano de 2018. Após diversos anos de discussões e alinhamento com o mercado, a Receita Federal finalmente implantará o eSocial e a EFD Reinf. Estas duas novas obrigações acessórias, que compõem o ambiente Sped, terão por condão centralizar todas as informações de folha de salários (eSocial) e de pagamentos realizados à terceiros (EFD Reinf), além das informações relativas aos repasses efetuados às associações desportivas. Do ponto de vista fiscal e previdenciário, estas eram as informações que faltavam para a Receita Federal concluir a automatização de todo o seu processo fiscalizatório e de cruzamento online de dados. Somando-se a estas novidades, será também implementado pela Receita Federal o Portal DCTFWeb, em substituição à DCTF padrão, onde a declaração dos tributos devidos mensalmente será montada pela Receita Federal a partir da entrega de todas as obrigações acessórias que compõem o ambiente Sped.
Contabilidade – O Brasil ainda é um dos mais complexos quando o assunto é tributos e obrigações fiscais?
Trícia – Sem dúvida alguma, o Brasil é um dos países que possui a maior complexidade tributária atualmente. A despeito de possuir uma arcaica estrutura legislativa, com uma infinidade de tributos, inúmeras exceções às regras e grande diversidade de obrigações acessórias, o Fisco brasileiro se destaca mundialmente pela competência tecnológica que conseguiu alcançar nos últimos anos. Este movimento tecnológico, que abrange não só a área fiscal, mas também a área previdenciária e contábil, obrigou todas as empresas brasileiras a buscarem níveis de compliance tributário nunca antes visto em outros países. Basicamente todos os documentos fiscais hoje são eletrônicos, a quase integralidade das escriturações fiscais são digitais e a fiscalização federal, estadual e municipal estão totalmente integradas e são 100% eletrônicas. Este complexo cenário tributário torna a vida das empresas brasileiras muito mais cara, devido à agilidade das autuações online.
Contabilidade – Como isso impacta nas empresas, tanto em relação aos gastos financeiros quanto em relação ao tempo?
Trícia – O gasto de tempo e de dinheiro para o controle de todas as informações fiscais e obrigações acessórias é altíssimo. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) comprova isso em sua pesquisa que aponta que companhias gastam cerca de 1,5% do faturamento anual para se adequar ao Fisco. Além disso, o Banco Mundial afirma que empresas gastam em média 1.958 horas por ano com a parte fiscal.
Contabilidade – Quais as soluções de automação mais utilizadas atualmente pelos profissionais da contabilidade?
Trícia – A automação da área fiscal hoje não é mais um luxo, e sim uma necessidade que veio para ficar quando o assunto é minimizar riscos fiscais. Devido às inúmeras mudanças legislativas no cálculo dos tributos, na forma de entrega das informações e nos procedimentos fiscais como um todo, e considerando o curto espaço de tempo para a implementação destas mudanças, a única forma de garantir a adequação das informações às alterações legais é a automatização dos processos fiscais. As soluções de automação mais utilizadas hoje atendem duas frentes principais, cálculo e obrigações (geração de relatórios digitais). A complexidade dos requisitos na área de geração de obrigações gera muita dificuldade em sua automação, pois exige dados de diferentes formatos e origens. Já na área de cálculo, soluções flexíveis são capazes de lidar com os variados cenários e entregar resultados de forma rápida e precisa. A tendência é que automações mais avançadas e inteligentes sejam adotadas mais e mais por profissionais.
Contabilidade – Durante todo o processo de vendas e de compras há complexidades fiscais. No que os empreendedores devem prestar atenção e que soluções podem ser usadas para facilitar esse processo?
Trícia – Os diversos projetos de auditoria fiscal digital que já atuamos nos demonstraram que o foco de todas as empresas deverá sempre ser a origem da informação fiscal. A forma com que os dados diários são imputados e parametrizados no ERP terá grande influência no correto cálculo dos tributos, na adequada escrituração e apuração fiscal, e a consequente entrega das informações ao Fisco de forma aderente à legislação fiscal. Inúmeras são as soluções que podem auxiliar as empresas na correta inserção dos dados no ERP, desde a validação prévia de clientes, fornecedores e cadastros tributários, até a centralização do recebimento de documentos fiscais e a validação do cálculo dos tributos. Outra solução de extrema importância é o controle gerencial do cumprimento mensal das obrigações fiscais, assim como a auditoria digital prévia dos arquivos a serem enviados ao Fisco.
Contabilidade – Como funcionam as soluções em nuvem e quais suas vantagens em relações a tecnologias mais antiquadas?
Trícia – O valor multidimensional das soluções em nuvem é hoje indiscutível, pois agregam agilidade nas informações, escalabilidade, custo-benefício, inovação e expansão dos negócios. Dentre todas estas vantagens trazidas pelas soluções fiscais em nuvem, a maior delas é a otimização do departamento fiscal com a grande redução dos gastos incorridos com infraestrutura e implantação. No atual cenário econômico, onde todas as empresas foram obrigadas a reduzir drasticamente as despesas e custos em geral, a solução em nuvem trouxe uma grande ajuda, tornando-se a principal alternativa para todos os gestores. Em regra, elas se utilizam de tecnologia de ponta que é disponibilizada pelo fornecedor dos serviços e podem gerar até 30 vezes mais desempenho e 220% mais eficiência. Em recente pesquisa realizada pelo Gartner, instituto global de consultoria de tecnologia, foi estimado que o mercado mundial de serviços em nuvem cresceria 18% em 2017, chegando a US$ 246,8 bilhões, acima dos US$ 209,2 bilhões registrados em 2016.
Fonte- Jornal do Comércio – 13/12/2017- http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/12/cadernos/jc_contabilidade/600499-automacao-e-necessaria-para-o-cumprimento-de-obrigacoes-acessorias.html