Diante da alta expressiva nos pedidos de recuperação judicial, os bancos renegociam dívidas com empresas, oferecendo melhores condições de crédito, para evitar os impactos negativos do processo em seus balanços e resultados.
Quando entra com a medida na Justiça, a companhia monta um plano de reestruturação do passivo e o submete a uma assembleia de credores. Entre a apresentação do projeto e sua aprovação, processo que costuma demorar de seis meses a um ano, os pagamentos dos débitos ficam suspensos.
Sem que os empréstimos sejam amortizados, as instituições financeiras precisam aumentar o volume de recursos usados para cobrir as parcelas em atraso, as chamadas Provisões para Devedores Duvidosos (PDD), por regra do Banco Central (BC). Esse dinheiro parado, por sua vez, gera prejuízos para o banco.
O diretor financeiro e de relações com investidores do Banrisul, Ricardo Hingel, afirmou que uma parcela significativa das provisões feitas pela instituição gaúcha ao longo deste ano é decorrente desse processo corporativo.
“Quando a empresa entra em recuperação judicial, independentemente de ela ser boa [pagadora] ou não, o banco não consegue renegociar as condições”, avaliou.
Dados do balanço da instituição apontam que seu nível de cobertura, que indica o quanto de dinheiro o banco possui para os créditos inadimplentes, está em 154,2% – ou seja, para cada R$ 100 não pagos, o Banrisul tem R$ 154,20 imobilizados em caixa.
Como os prazos para o pagamento das dívidas na recuperação judicial não têm um limite legal, a rentabilidade dos bancos também é afetada pelos deságios, que vão de 30% a 70% do valor de face da dívida, aponta Luis Alberto de Paiva, economista e presidente da Corporate Consulting.
Segundo Paiva, o maior problema de endividamento está entre as empresas de médio porte, segmento em que a inadimplência alcança níveis de 30%. “As empresas estão buscando a recuperação judicial para fazer a rolagem de passivos”, explicou.
O economista disse, contudo, que algumas vezes os bancos, principalmente os de maior porte, não estão aprovando os planos de reestruturação e deixando a empresa quebrar. A alternativa, de acordo com ele, é buscar a instituição para renegociar os débitos.
Ronaldo Vasconcelos, sócio do Lucon Advogados e professor de Direito da Mackenzie, observou que, normalmente, os bancos privados têm apoiado mais as renegociações. “Os bancos públicos são mais difíceis de negociar. Eles têm outras regras e outros critérios de compliance”, afirmou.
Intermediadores
De acordo com Vasconcelos, o ideal é que a empresa contrate um intermediador para renegociar os débitos com o banco. “A companhia, normalmente, já perdeu a credibilidade. Muitas vezes, foi o próprio executivo que levou a empresa para situação em que ela está”, observou o advogado.
Paiva disse que as firmas que negociam diretamente com o banco conseguem alongar os passivos por 24 a 36 meses, enquanto, com ajuda de um intermediador, a rolagem pode ser de até 10 anos. “O banco negocia com a consultoria com critérios diferentes. É possível se conseguir redução dos juros, reversão de taxa de mora e de multas, por exemplo”, afirmou.
Fonte: DCI – SP – 16/12/2015- http://52.22.34.177/noticias/bancos-negociam-com-empresas-para-evitar-perdas-de-recuperacao-judicial-82/