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Empresas criam comitês para enfrentar problemas

A dificuldade de entender o que aconteceu com o protesto dos caminhoneiros e a necessidade de buscar alternativas levou grandes empresas a criar comitês de crise. Por meio deles, buscam pistas para descobrir onde foi parar sua carga, quais os pontos de concentração de piquetes e até discutem sobre possibilidades de disputas políticas terem dado sobrevida a um movimento que parecia ter terminado.

Fabricantes de papel e celulose representam um dos setores com comitês de crise mais organizados. “As pessoas não se deram conta ainda da dimensão do que está ocorrendo; o sistema como um todo parou”, diz Walter Schalka, presidente da Suzano Papel e Celulose, que montou um grupo para tentar dimensionar o tamanho do estrago provocado pela greve.

Schalka prevê que os estoques serão gradualmente repostos, mas não há transporte suficiente para atender à demanda num primeiro momento. “Minha estimativa é que perdemos um ponto percentual de PIB”, destaca o executivo. A francesa Sanofi, que até aqui não paralisou as atividades, informou também ter montado sua equipe de crise.

Na área de saúde, a greve fez surgir um movimento solidário entre hospitais. Representantes das 106 empresas ligadas à Associação Nacional dos Hospitais privados (Anahp) montaram um grupo no WhatsApp para troca de materiais e equipamentos. A entidade também criou seu comitê de crise para buscar soluções conjuntas.

“Com planos de contingência para transporte de funcionários e médicos temos como trabalhar até sexta-feira”, diz Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein, que mantém um grupo de crise desde a semana passada.

“Além da falta de combustível, há o problema dos bloqueios nas estradas”, afirma Claudia Cohn, presidente do conselho administrativo da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), entidade que reúne 20 redes de medicina diagnóstica.

Há comitês de crise também na indústria automobilística, segundo fontes. Nesse setor, praticamente todas as áreas tentam mapear um fluxo de produção que, em vez de estar em suas linhas de montagem dispersa-se pelas estradas do país. Departamentos de compras e de logística estão de prontidão para detectar quaisquer sinais de movimentação de carga das peças e insumos. Mas o quadro, ontem, era o mesmo em todo o setor: não havia informações sobre a intenção de os caminhoneiros que abastecem as linhas de montagem retomar o trabalho.

“Acho que o fim da greve foi ‘fake’ news”, disse uma fonte do setor. Os chamados cegonheiros (motoristas que transportam veículos) também estão parados. “Acho que só vamos conseguir voltar a trabalhar na segunda-feira”, disse outra fonte.

Nos comitês discute-se sobre tudo, inclusive eventuais envolvimentos de questões políticas na paralisação. Em uma dessas conversas numa grande montadora, ontem, alguns cogitaram que a falta de reforço policial para garantir a circulação dos veículos estaria concentrada, sobretudo, em Estados governados por adversários do presidente Michel Temer.

A Volvo, fabricante de caminhões e ônibus, informou que monitora ativamente a situação. “No entanto, até o momento não é possível fazer previsão para o reinício das atividades”, destacou a empresa por meio de nota. Segundo a montadora, com a interrupção dos fluxos logísticos, há prejuízo também na exportação de componentes para outras fábricas da companhia no exterior.

Mas, em geral, as montadoras têm dado informações sucintas ou vagas sobre os efeitos do movimento que ontem entrou no nono dia. Para evitar exposição isolada de suas marcas num contexto de problema coletivo essas multinacionais não tem divulgado balanços de prejuízos.

Para funcionar plenamente, a produção de veículos depende da retomada do “just in time”, sistema de produção por meio do qual a entrega de componentes é feita quase que simultaneamente à produção dos veículos. Alguns dias serão necessários, afirmam técnicos da indústria, para que esse sistema volte a funcionar plenamente.

Com várias fábricas no país, a Bosch informou que nesta semana algumas linhas funcionaram e outras ficaram paradas. Mas a maioria das autopeças está parada, segundo o Sindipeças, entidade que representa o setor.

Além dos prejuízos, a greve dos caminhoneiros mudou a rotina de empresas e seus profissionais. No desespero, vale até ir pessoalmente buscar o material que não chegou. O superintendente do Hospital Santa Cruz, em São Paulo, Leonel Fernandes, tem ido retirar medicamentos. Ontem, ele estava num depósito de material cirúrgico para oftamologia quando conversou com o Valor. “Temos que enfrentar a crise e se for necessário buscar o que precisamos faremos isso”.

Fonte- Valor Econômico- 30/5/2018- http://www.seteco.com.br/empresas-criam-comites-para-enfrentar-problemas-valor-economico/

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