Home > Economia 2017 > Empresas buscam alternativas de crédito

Empresas buscam alternativas de crédito

A Gemman Construtora, de São José dos Campos (SP), fez uma peregrinação entre os bancos brasileiros em busca do dinheiro necessário para concluir um empreendimento imobiliário e lançar outro, mas esbarrou no custo e na dificuldade de obter os recursos. Até que acabou encontrando uma saída pouco habitual para empresas de seu setor e tamanho: tomou um empréstimo de US$ 5 milhões nos Estados Unidos.

A companhia chegou a esse caminho por meio do Grupo Financial, consultoria especializada em levantar aportes no exterior. “Algumas obras chegaram quase a parar porque os bancos não liberavam o dinheiro”, diz Eduvaldo Bertti, sócio da Gemman.

Segundo ele, a empresa pagava às instituições financeiras no Brasil taxas entre 1,9% e 2,3% ao mês, mesmo oferecendo em garantia terrenos e imóveis. No exterior, o custo da operação ficou em 4,7% ao ano mais 2,5% anuais com um seguro financeiro.

Assim como a construtora paulista, diversas empresas têm recorrido a fontes alternativas para driblar a retração dos bancos tradicionais no crédito. Escaldadas pela crise econômica e pelos reflexos da Operação Lava-Jato entre clientes corporativos, as instituições colocaram o pé no freio nas concessões de empréstimos e aumentaram as exigências de garantias nos últimos anos.

Em alguns casos, os próprios bancos ajudam as companhias a encontrar opções para se financiar. A recém-criada Quasar Asset Management, voltada ao mercado de crédito, tem cerca de 20 mandatos para estruturar operações para empresas e parte deles veio por indicação das instituições financeiras que as atendem, diz Carlos Maggioli, sócio-fundador e presidente da gestora de recursos.

A Quasar tem em vista companhias com faturamento anual de R$ 500 milhões a R$ 1,5 bilhão – segmento chamado de “corporate” no jargão bancário. “São empresas que pagam suas dívidas, mas não conseguem mais dinheiro nos bancos e não têm tamanho para acessar o mercado de capitais”, diz o gestor, que fez carreira no Itaú BBA.

A gestora lançou em julho um fundo de investimentos com o objetivo de captar R$ 500 milhões até setembro. A carteira será fechada e terá prazo de seis anos, com dois de carência. Por meio dessa estrutura, Maggioli pretende adquirir papéis – como debêntures e cédulas de crédito bancário (CCB) – que hoje estão nos balanços dos bancos e conceder novos recursos a empresas que não preenchem os requisitos para fazer emissão no mercado.

Os alvos são companhias de boa qualidade em que a gestora vê potencial de crescimento se tiverem acesso a recursos para isso. “Queremos ser uma espécie de private equity do crédito”, diz.

Soluções desse tipo não necessariamente vão resultar em taxas inferiores às que as empresas encontrariam nos bancos. “Mas os prazos serão mais longos”, afirma Maggioli. Segundo ele, enquanto um empréstimo bancário tem vencimento em até dois anos, a gestora poderá oferecer o dobro disso e amortizações adequadas ao fluxo de caixa.

Os prazos mais longos também são um dos atrativos que o Grupo Financial tem apresentado às companhias para a contratação de crédito no exterior. “O dinheiro lá fora, além de mais barato, é mais longo e inclui um período de carência. Dá fluxo de caixa para as companhias”, afirma Renato Costa, presidente da consultoria.

As linhas em dólar têm taxa média de 4,2% ao ano e prazo médio de oito anos. As operações são feitas com bancos americanos e europeus, segundo Costa, que não revela os nomes das instituições com as quais trabalha.

“Aqui, mal conseguíamos um prazo de três anos, com toda a obra dada em garantia real. Lá, conseguimos oito anos de prazo, com dois de carência, sem a garantia”, diz Bertti, sócio da construtora Gemman. O empresário cogita fazer outras operações desse tipo no exterior.

Segundo Costa, o Grupo Financial viabilizou US$ 460 milhões em empréstimos externos no ano passado. Neste ano, a cifra soma US$ 1,2 bilhão e a expectativa é levar o total a US$ 2 bilhões até dezembro.

A tomada de recursos em bancos estrangeiros, no entanto, não é um caminho para todas as companhias. Esse tipo de operação envolve riscos, como a variação cambial, e os trâmites são demorados – costumam levar de 9 a 12 meses.

Segundo Costa, as candidatas passam inicialmente por uma “due diligence”. Depois de entender o funcionamento da empresa, a consultoria dá orientações sobre como aumentar a eficiência operacional e auxilia na abertura de uma filial no exterior. É ela que tomará a linha com o banco estrangeiro. “Após o recebimento dos recursos, continuamos o acompanhamento e orientamos também sobre o melhor momento de trazer os recursos para o Brasil e como se proteger da exposição ao câmbio”, diz o executivo.

Embora estejam trilhando caminhos diferentes, a Quasar e o Grupo Financial têm em comum o objetivo de capturar uma parcela do mercado de crédito que desapareceu nos últimos anos e está em meio a uma transformação. Além da crise, entram nesse cenário mudanças no crédito direcionado e nos repasses de recursos do BNDES e a adoção plena das regras de Basileia 3, que vai exigir mais capital dos bancos.

Para Maggioli, da Quasar, esse cenário vai gerar uma lacuna da ordem de R$ 200 bilhões no funding a empresas. É nesse espaço que a gestora quer se situar. “Não vamos competir com os bancos, e sim complementar a oferta”, diz.

O estoque total de crédito a pessoa jurídica no país encerrou junho em R$ 1,482 trilhão, segundo o Banco Central. A cifra mostrou queda de 7,3% em um ano.

FONTE: Valor Econômico- 3/8/2017-
http://www.coad.com.br/home/noticias-detalhe/80900/empresas-buscam-alternativas-de-credito

You may also like
Cadastro positivo pode reduzir juros
FGC aprova com unanimidade teto de R$ 1 milhão para investidor
Falta de letras de crédito faz estoque de CDBs crescer mais de 20% no ano
Golpistas aproveitam para enganar beneficiários de planos econômicos