Aumentar o acompanhamento do uso do plano e manter funcionários longe dos consultórios se torna foco de empresas e abre espaço para comercialização de programas de gestão integrada
Com a dificuldade das empresas de conter o aumento da sinistralidade e o reajuste dos planos de saúde, especialistas avaliam que a terceirização do gerenciamento médico nas contratantes deve se tornar tendência no País. O objetivo é diminuir um desperdício estimado em R$ 60 bilhões, metade da receita do setor privado.
Atualmente, o plano de saúde corresponde a algo entre 10% e 17% da folha de pagamentos e a previsão é que chegue a 20% em curto prazo com o aumento dos custos médicos (VCMH), que crescem de forma mais rápida que a inflação geral do País. Para o conselheiro da Aliança para a Saúde Populacional (Asap), Paulo Hirai, o reajuste tem aumentado também pela falta de racionalidade no uso, que abre espaço para fraudes e exames repetidos. “Cerca de 20% dos exames não são sequer retirados.”
De acordo com Hirai, além de oferecer o plano aos funcionários, as contratantes devem ter programas de gerenciamento do mesmo, além de promover ações de prevenção de doenças. “Uma especialização em gestão médica reduz gastos entre 10% e 15% no primeiro ano”, ressalta.
Entre as ações para rever as despesas do plano está a inclusão de um clínico-geral na empresa, para que possa dar uma segunda opinião médica, triagem prévia para indicar o especialista e controle de pacientes crônicos. “Um médico interno acaba com 80% das necessidades médicas dos funcionários.” A mesma redução se aplica para os exames desnecessários. Enquanto no ambulatório interno o número de exames solicitados por consulta é de 0,2, o do plano é de 2,5.
“Claro que é necessário conhecimento técnico, mas tem aparecido bastante empresa que terceiriza o serviço”, aponta. Para Hirai, mesmo que a terceirização traga uma nova despesa, a economia com os programas de gerenciamento é cinco vezes maior que o investimento. Ele ainda explica que as ações de redução de custo são mais eficientes quando partem da empresa, uma vez que a relação entre o beneficiário e o plano de saúde tem mais desconfiança. “O paciente pensa que a operadora quer economizar em cima dele.”
Novo produto
Vendo esta necessidade, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz criou um programa de saúde integrada próprio para seus funcionários – que já trouxe resultado – e agora está sendo comercializado. Segundo o gerente de qualidade de vida e saúde do hospital, Rodrigo Bornhausen Demarch, a proposta é aprimorar a experiência do paciente, melhorar a saúde dessa população e reduzir o custo per capita. “Começou como uma iniciativa de promoção de saúde, ganhou abrangência maior para gerenciamento de doenças e hoje é um programa de gestão de saúde populacional”, diz.
O programa Bem-Estar foi implementado em 2010, em parceria com a Universidade de Stanford, e já trouxe resultados como a redução do sedentarismo em 20%, além de três anos sem reajuste. Hoje, o programa abrange 5,7 mil pessoas, entre funcionários e dependentes. Nos resultados do programa também foi possível observar o benefício de uma academia interna. “Os usuários da academia interna custam 28% menos”, diz. A mesma lógica vale para fumantes: os que fazem exercício no espaço próprio também custam menos para o sistema.
Agora, além de oferecer a plataforma tecnológica, o hospital ofertará alguns serviços que fazem parte do programa para empresas interessadas, como coaching e segunda opinião médica. O hospital já tem uma empresa grande em fase piloto e dois clientes em fase de negociação.
Opções
Outro exemplo é a Carelink, que oferece programas de gerenciamento, relacionamento, acompanhamento e obtenção de indicadores. De acordo com o diretor da empresa, Francisco Vignoli, o sistema reúne 560 mil vidas e já conseguiu entre 20% e 30% de redução de custo per capita entre os clientes. Segundo ele, apesar de ser uma terceirização, o processo ainda exige uma equipe qualificada da empresa para a tomada de decisões e verificação de resultados. “A empresa tem que assumir seu papel de protagonismo para renegociar a rede e o gasto da operadora”, aponta.
Para ele, o sistema é um auxílio, mas a empresa tem que ter um plano de gestão baseado em suas necessidades. “É onde o funcionário passa a maior parte do tempo. É lá que se conseguem mais informações sobre o paciente”, diz.
Antes de implementar qualquer tipo de programa, o executivo aponta que é determinante que a empresa entenda as necessidades de seus funcionários, ou as ações de saúde irão virar custo. “As necessidades mudam. Para que um programa antitabagismo se não tenho fumantes?”, questiona.
Vignoli acredita que, mais do que ações práticas, é importante a logística de informação de saúde, na qual uma equipe especializada acompanha desde a primeira eventualidade médica para saber qual foi o hospital e o tratamento. “Com as informações ele pode questionar a operadora sobre por que um hospital está na rede e outro não, por exemplo.”
Para a CEO da Asap, Milva Gois, um dos desafios de aplicar este tipo de gerenciamento no mercado é o desconhecimento da contratante. “Com a crise vemos muitas empresas fazendo downgrade da carteira e isso preocupa”, aponta.
Segundo ela, as empresas não imaginam o desperdício que é possível cortar e optam por um plano de saúde que não encaixa em sua população. “Ela precisa identificar no dia a dia a necessidade e fazer a escolha do plano certo”, diz.
Para abordar o tema de forma mais abrangente, o Fórum Asap este ano debaterá os rumos e a sustentabilidade da saúde no dia 7 de abril, em São Paulo, com a apresentação completa do estudo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Fonte: DCI; Clipping da Febrac- 2/3/2016.