Além de diminuírem os custos operacionais, projetos de investimentos que contemplem o uso sustentável de energia e água, ou redução e tratamento de resíduos, garantem financiamentos bancários com condições mais favoráveis para as empresas.
Como muitos bancos incluem o risco socioambiental na análise de crédito, ponderando itens como eficiência energética e hídrica, ecoeficiência na linha de produção, governança corporativa e compliance na avaliação, companhias que se preocupam com a sustentabilidade conseguem melhores taxas e prazos nos empréstimos.
“Água e energia são insumos diretos que qualquer cliente pessoa jurídica. O uso eficiente desses recursos se traduz em uma melhor gestão de risco operacional”, observou Linda Murasawa, superintendente de Sustentabilidade do Santander.
“No caso de uma boa governança, ela garante uma gestão financeira eficiente, contas auditadas e em dia com a legislação – inclusive as socioambientais -, o que mitiga o risco da operação”, completou, apontando multas e problemas com a fiscalização como custos que são evitados com a prática.
No ano passado, o Santander realizou 8.055 novos contratos de financiamento a projetos sustentáveis, gerando R$ 2,51 bilhões em crédito para o objetivo – um avanço de 26,4% em relação a 2013.
Dentro da carteira de grandes empresas, que detém a maior parte do volume de financiamentos, os recursos foram direcionados para redução e tratamento de resíduos (32% do total), construção e reforma sustentável (26%), governança corporativa (24%) eficiência energética (11%) e produção mais limpa (7%).
Para Eugenia Melo, superintendente nacional de Micro e Pequeno Empreendedorismo da Caixa Econômica Federal (CEF), em cenário de desaceleração econômica, como o vivido pelo País, esses financiamentos podem ser uma saída para companhias (principalmente as de menor porte) que passam por dificuldades.
“A empresa tem que pensar no que ela deve investir para melhorar os custos. Tem que buscar trocar equipamentos antigos por outros mais modernos, que gastem menos energia ou consumam menos água, por exemplo”, analisou.
Segundo Melo, o empresário que possui um projeto voltado para boas práticas socioambientais consegue uma redução média de 0,15% ao mês nas taxas – ou 1,81% ao ano – no banco. Os prazos costumam aumentam em 15 meses. “Essa é uma média. Dependendo da empresa, as condições podem ser ainda melhores”, disse.
Pequenas empresas
Parte dos recursos destinados ao financiamento de negócios sustentáveis pelos bancos é livre – ou seja, com taxas e prazos definidos pelas instituições – e outra parte é feita com recursos direcionados, com subsídio, principalmente, do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
No campo de micro e pequenas empresas, a Caixa apontou o Proger Investgiro, linha exclusiva para micro e pequenas empresas com faturamento anual de R$ 7,5 milhões, que usa recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para financiamento dos projetos e tem taxa de 5% ao ano mais a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP).
Melo ressaltou que os ganhos de eficiência – ou redução de custos – gerados por um projeto ecoeficiente são contabilizados como capacidade extra de pagamento pela empresa e aumenta limite de crédito que ela possui junto ao banco público.
“Ou seja, mesmo se a empresa já tiver outro crédito na Caixa, ela pode conseguir o financiamento [sustentável]. A economia ou ganho proporcionado pelo projeto gera capacidade extra de pagamento”, disse.
O Santander possui duas principais linhas para as empresas de menor porte, atendidas nos bancos de varejo, o Capital de Giro Sustentabilidade, voltado obras, projetos, consultorias e certificações, e o CDC Sustentável, que financia equipamentos dentro do tema – no caso do CDC, a taxa média é de 2,35% ao mês e o prazo pode chegar a cinco anos.
“O tempo de análise [de risco de crédito] depende do projeto. Alguns financiamentos são liberados na hora e outros demoram meses”, observou Murasawa, do Santander.
De acordo com ela, no varejo – onde estão, principalmente, as micro e pequenas empresas – os processos são mais padronizados e feitos mais rapidamente. “No varejo, buscamos escala, então é mais rápido”, explicou. “No corporate [grandes empresas], os projetos são mais específicos e demandam maior análise”, completou.
Agronegócio e corporações
Entre os setores, o agronegócio, cuja legislação vem endurecendo nos últimos anos, é um dos que mais demanda o crédito sustentável, principalmente nas linhas de agricultura com baixa emissão de carbono.
O Banco do Brasil, o maior financiador do segmento, possuía R$ 8,6 bilhões emprestados dentro do Programa ABC, voltado justamente para reduzir a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, no primeiro trimestre – o crescimento da carteira foi de 46,4% em 12 meses e o BB é responsável 92% dos financiamentos do programa.
“A empresa pode instalar um biodigestor, melhorando a eficiência energética, ou ampliar a área de florestas cultivadas, para atender legislação ambiental”, apontou Asclepius Ramatiz Soares, gerente-geral da Unidade Negócios Sociais e Desenvolvimento Sustentável do BB.
De acordo com ele, além das agroindústrias, o banco também trabalha com agricultores familiares, por meio do Pronaf, que possui uma carteira de R$ 36,8 bilhões, alta de 23,5% em relação a 2013.
Entre as grandes corporações, Murasawa, do Santander, destacou os financiamentos a incorporadoras que tenham projetos com instalações sustentáveis, como painéis solares e sistemas de reúso de água, além de obras que reduzam os desperdícios na construção.
Projeções
Os executivos ouvidos pelo DCI apontaram que o mercado está conservador em termos de investimentos nesse ano, o que impacta negativamente a demanda pelas linhas sustentáveis, porém ressaltaram que esse tipo de financiamento tem sido buscado como forma de redução de gastos. Santander e BB disseram esperar avanço, principalmente, em agronegócio.
Fonte: DCI; Clipping da Febrac- 2/6/2015.