Diante do racionamento, que tem deixado moradores de 15 regiões administrativas sem água uma vez por semana, condomínios se programam para não ficar desabastecido. Alguns fazem o próprio rodízio, outros aproveitam a chuva.
Em tempos de racionamento, o brasiliense começa a se reinventar e a pensar duas vezes antes de abrir a torneira. Ontem, em um condomínio residencial da zona baixa de Águas Claras, os moradores decidiram, em assembleia, criar o próprio esquema de abastecimento. A região administrativa foi alvo do quarto dia de interrupção do serviço da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb). O condomínio fechou os registros às 20h da quarta-feira e abriu ontem, das 6h às 8h, das 11 às 13h e das 18h às 20h, para poder atender os moradores no horário das refeições. “Foi uma escolha da maioria, pois, assim, não correríamos o risco de ficar sem água rápido. Nos horários tabelados, podemos tomar banho e preparar as refeições. E não sofremos tanto”, explica a moradora Larissa Nogueira, 22 anos, que mora no condomínio com a mãe.
Um dia antes dos registros serem fechados, a família se preparou. Elas compraram três galões de água de cinco litros e seis garrafas de 300 ml. “Nunca vivemos um racionamento, então, preferimos nos precaver, pois, além do dia do desligamento, fomos informados que a água poderia demorar dois dias para voltar definitivamente. Pensando nisso, também decidimos passar uns dias na casa de parentes em Minas Gerais para não passar sufoco”, explicou.
A cinco quilômetros dali, no Guará, cidade que terá a interrupção do abastecimento hoje, o síndico Murilo do Carvalho, 28, decidiu usar a água da chuva para auxiliar no abastecimento do prédio de 19 apartamentos. Além das duas caixas d’água com 12 mil litros, duas foram ativadas para suprir a demanda no período de racionamento, acumulando mais 20 mil litros. “Era uma ideia antiga, que acabou ficando de lado por falta de investimento financeiro. Quando vimos que a situação hídrica no DF estava complicada, tiramos do papel”, esclarece o síndico. A água pluvial será usada para descarga de sanitários e limpeza de áreas internas e externas. Já a da Caesb é indicada para consumo, higiene pessoal e cozimento de alimentos.
Apesar de o brasiliense buscar cada vez mais alternativas para os dias de racionamento, o medo de ficar sem água em casa para as atividades básicas continua. Moradora da Candangolândia, a dona de casa Crispiniana Alves de Jesus, 47 anos, passou o dia de ontem sem água na torneira. Ela conta que separou, em baldes e panelas, o que seria usado nas 24 horas do racionamento. “Aqui, não temos caixa-d’água e vamos ter que dar um jeito para fazer as coisas da casa. Separei água para a comida e o restante vai ser para a limpeza e o banho. Antes de a água acabar, adiantei os serviços, deixei a louça e a roupa lavadas.”
O gasto na casa de Crispiniana é alto — oito pessoas moram com ela. “O meu maior medo é de que a água demore para voltar. Separei o necessário para um dia. Caso não chegue pela manhã, precisarei comprar”, realça. Sem previsão de término do racionamento, a dona de casa planeja adquirir um reservatório nos próximos dias. “Estamos pesquisando os preços, mas, pelo visto, está tudo em alta.”
Limpeza
Com pouca água em casa, a higiene do lar acaba ficando em segundo plano. O presidente da Federação Nacional das Empresas Prestadoras de Serviços de Limpeza e Conservação (Febrac), Edgar Segato Neto, relata que novos produtos e maquinários estão chegando ao mercado para diminuir o consumo de água nas atividades de limpeza. “Hoje, investimos no uso de maquinários que reduzem o consumo, como aqueles com jatos de alta pressão, que gastam menos água para lavar calçadas, pátios e áreas abertas, por exemplo”, explica. Para limpezas dentro de casa, diversos produtos químicos também dispensam uso desenfreado. “São itens como detergentes que não precisam de enxágue. É só passar um pano seco depois da utilização e a lavagem está pronta. E artigos como esses vão se tornar cada dia mais usuais”, relata.
O presidente da Febrac ainda aponta que outro modo de economizar é acumulando materiais para realizar apenas uma lavagem. “Juntar as roupas para lavar apenas uma vez por semana ou deixar acumular pratos e copos é um bom modo de gastar menos água. E é indicado ainda que essas lavagens sejam feitas sempre um ou dois dias antes do dia de interrupção do abastecimento”, complementa.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estipula que 100 litros por habitante é uma média adequada para assegurar as necessidades básicas e minimizar os problemas de saúde. Com isso, uma casa com quatro pessoas precisaria de um reservatório de pelo menos 400 litros para assegurar o abastecimento de uma residência por 24 horas. O espaço, porém, necessita de cuidados básicos, como limpezas regulares, para não trazer riscos aos moradores.
Como limpar a caixa-d água
» Retire toda a água da caixa.
» Faça a limpeza das paredes e do fundo da caixa utilizando vassouras, rodos, panos e baldes.
» Esfregue toda a superfície do reservatório, usando materiais de limpeza que ainda não tenham sido usados para limpar
outras superfícies.
» Dilua um litro de água sanitária em cinco litros de água para cada mil litros da capacidade da caixa.
» Espalhe a solução no fundo e nas paredes com uma bucha ou pano.
» Deixe o produto agir por 30 minutos.
» Lave normalmente o reservatório com jatos d’água, retirando toda a água acumulada.
» Encha a caixa com água.
Rodízio
» Hoje: Guará I e II, Polo de Modas, CABS, Lúcio Costa, SQB, CAAC, Taguatinga Sul, Arniqueiras, Areal e Riacho Fundo I
» Amanhã: Águas Claras (zona alta), Concessionárias e Taguatinga Norte
» Domingo: Ceilândia Oeste, Recanto das Emas e Riacho Fundo II
Fonte: Correio Braziliense; Clipping da Febrac- 23/1/2017.